quarta-feira, 6 de julho de 2011

Velha na Janela

A casa verde
Com suas madeiras apodrecidas e paredes lascadas,
Está cansada mas ainda em pé.
E tão cansada está a senhora enrugada
Debruçada na janela.
A cidade corre depressa ao seu redor,
Os carros passam rápido,
As pessoas passam rápido,
Mas as horas dentro da casa insistem em passar devagar,
Enquanto a velha continua debruçada na janela
Observando os pombos que se aglomeram na calçada.
O rosto é sério,
Quase tão inanimado quanto os móveis da sala.
E a escuridão do cômodo só não é capaz
De apagar o branco reluzente dos cabelos despenteados
- há um pouco de solidão em cada fio.
Os movimentos são lentos mas a língua é esperta.
Pena que os ouvidos tornaram-se surdos para as suas histórias!
As mãos trêmulas não servem mais para o trabalho.
Pena que os olhos são cegos para o seu cansaço!
O tempo e o abandono,
Suas únicas companhias,
Levaram seus sonhos, as forças e a ambição,
Tiraram-lhe alguns entes queridos e alguns amores.
Enquanto que alguns compromissos de última hora
Assassinaram a esperança que não pode mais dizê-la
Que a vida não precisa terminar antes do seu tempo.
Que a última etapa da vida não precisa resumir-se a pombos vistos da janela.

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