quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Vinte e Três

Hoje, vi no espelho olhos mais escuros
Em que o castanho esmaeceu-se em noite estrelada.
E quantas estrelas havia!
E vi dentro da escuridão
Uma mulher dançar...
Dançava de orgulho e de amor
Por si mesma
- mesmo estando tão cheia de perguntas.
Mas se o Poeta Passarinho* disse
Que "nenhuma pergunta demanda resposta",
Por que não encará-las como algo natural?
E naturalmente dançava.
Novamente, olhei no espelho
E vi que, além da mulher,
Havia uma menininha de seis anos
Que, assim como eu,
Também gostava de se observar no espelho
E perguntar
De onde veio,
Para que veio,
Quais são os significados,
Como encontrar os sinais...
E perguntava tanto
Que se perdia em meio às suas próprias dúvidas
Ao mesmo tempo em que percebia que ainda não sabia nada
E que, aos poucos, as respostas vêm
Carregadas nas costas do tempo.
Então fico eu como expectadora
Observando a menina perguntar
Enchendo o coração da mulher de vinte e três.

*Interrogações, de Mário Quintana.