domingo, 13 de novembro de 2011

Era uma vez, uma boneca triste...


Era uma vez,
uma boneca guardada
jogada
no fundo de um baú.
Estava ali tão quietinha
pobrezinha
esquecida no escuro.
Mas ouviu-se um barulho
cadeado
destrancado
e o baú se abriu.
Alguém a pegou.
"Me solta!
me põem de volta!"
A boneca se amedrontou.
Mas a brincadeira começou
e ganhou abraços
laços
e um chá à mesa.
Correram para a janela
ver o dia
a alegria
de quem brincava lá fora.
Também viram o jardim
desabrochando em flores
graciosas
preguiçosas
brincando com a brisa.
Pentearam-lhe os cabelos
e colocaram vestidos
floridos
que a fizeram parecer nova.
Formou-se uma roda
e as meninas cantavam
parlandas
cirandas
para dançar.
Como brincar era bom!
ser beijada
abraçada
como era bom!
E, no final do dia,
tão cansada
foi deixada
novamente no baú.
Com o coraçãozinho em festa
a boneca deitou
sonhou
com tudo o que tinha acontecido.
De manhã, já estava ansiosa
esperando
imaginando
as novas músicas que iria cantar.
Mas o baú não se abriu naquele dia
nem no outro
nem no outro
e jamais se abriria.
As recordações ainda tinham
um gosto de bala
derretendo
estupendo
capricho de criança.
Mas chegava a hora de assumir
que muito tempo já havia
passado
passado
o que viveram.
O escuro voltou a ser
sua única companhia
que silencia
qualquer esperança.
A criança cresceu
e não quer mais brincar.

Um comentário:

  1. As recordações ainda tinham
    um gosto de bala...

    ...A criança cresceu
    e não quer mais brincar.

    Esse pequeno trechinho lindo que destaquei, levou-me às lágrimas. Exatamente no momento em que você escrevia mais essa pérola rara, meu mundo caia. E desse momento também passei a escrever. Dizem que basta o homem estar só em um pós casamento para virar filósofo, para se dar a escrever... assim me faço humilde e abusado a escrever minhas lágrimas, muitas e muitas vezes, desde 13 de novembro de 2.011.

    Mais uma vez venho aqui reafirmar minha admiração por seu trabalho. Sucesso.

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